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Malária: gestantes, crianças e pessoas vulneráveis são mais afetadas

Repro­du­ção: © Pre­fei­tu­ra de Cara­gua­ta­tu­ba

94% dos casos da doença foram registrados na África


Publicado em 25/04/2024 — 07:12 Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Ao lon­go dos últi­mos anos, o pro­gres­so na redu­ção da malá­ria estag­nou – a doen­ça não ape­nas con­ti­nua colo­can­do em ris­co a saú­de e a vida das pes­so­as, mas tam­bém per­pe­tua um ciclo vici­o­so de desi­gual­da­de. O aler­ta é da Orga­ni­za­ção Mun­di­al da Saú­de (OMS) em razão do Dia Mun­di­al da Malá­ria, lem­bra­do nes­ta quin­ta-fei­ra (25).

“Pes­so­as que vivem em situ­a­ções mais vul­ne­rá­veis, incluin­do ges­tan­tes, bebês, cri­an­ças meno­res de cin­co anos, refu­gi­a­dos, migran­tes, pes­so­as des­lo­ca­das inter­na­men­te e povos indí­ge­nas con­ti­nu­am a ser des­pro­por­ci­o­nal­men­te afe­ta­das”, ana­li­sa a enti­da­de. Dados da OMS indi­cam que, em 2022, foram con­ta­bi­li­za­dos 249 milhões de novos casos de malá­ria, além de 608 mor­tes em todo o pla­ne­ta.

África

Do total de casos de malá­ria, 94% foram iden­ti­fi­ca­dos no con­ti­nen­te afri­ca­no. A região res­pon­de ain­da por 95% das mor­tes pela doen­ça. Popu­la­ções rurais que vivem em situ­a­ção de pobre­za e com menos aces­so à edu­ca­ção são as mais atin­gi­das. Dian­te do cená­rio, a OMS apon­ta que as metas esta­be­le­ci­das para a redu­ção da malá­ria até 2025 não serão alcan­ça­das.

A enti­da­de aler­ta ain­da para bar­rei­ras em áre­as como equi­da­de no aces­so à saú­de, igual­da­de de gêne­ro e direi­tos huma­nos nas estra­té­gi­as de com­ba­te à malá­ria. “Todas as pes­so­as deve­ri­am ter direi­to a ser­vi­ços de qua­li­da­de opor­tu­nos e aces­sí­veis para pre­ve­nir, detec­tar e tra­tar a malá­ria, mas essa não é uma rea­li­da­de para todos”, des­ta­ca.

Bebês e crianças

Os dados mos­tram, ain­da, que bebês e cri­an­ças peque­nas seguem res­pon­den­do pelo mai­or núme­ro de mor­tes pro­vo­ca­das pela doen­ça – em 2022, qua­tro em cada cin­co mor­tes rela­ci­o­na­das à malá­ria no con­ti­nen­te afri­ca­no foram con­ta­bi­li­za­das entre cri­an­ças meno­res de cin­co anos. Desi­gual­da­des no aces­so à edu­ca­ção e a recur­sos finan­cei­ros, segun­do a OMS, agra­vam ain­da mais o ris­co.

“Cri­an­ças meno­res de cin­co anos de famí­li­as pobres da Áfri­ca sub­sa­a­ri­a­na têm cin­co vezes mais chan­ce de serem infec­ta­das pela malá­ria do que as de famí­li­as mais ricas”, aler­ta a enti­da­de.

Gestantes

A OMS sali­en­ta, ain­da, que a gra­vi­dez reduz a imu­ni­da­de da paci­en­te para com­ba­ter a malá­ria, tor­nan­do ges­tan­tes mais sus­ce­tí­veis a infec­ções e aumen­tan­do o ris­co da for­ma gra­ve da doen­ça e de mor­te. Desi­gual­da­des de gêne­ro, por­tan­to, aumen­tam o ris­co de con­trair a doen­ça.

“Se não for tra­ta­da, a malá­ria, duran­te a gra­vi­dez, pode cau­sar ane­mia gra­ve, mor­te mater­na, mor­te do feto, par­to pre­ma­tu­ro e recém-nas­ci­dos de bai­xo peso”, indi­ca a OMS.

Refugiados, migrantes e indígenas

Por fim, a enti­da­de lem­bra que alte­ra­ções cli­má­ti­cas e emer­gên­ci­as huma­ni­tá­ri­as, incluin­do catás­tro­fes natu­rais, além de con­fli­tos em paí­ses onde a malá­ria é con­si­de­ra­da endê­mi­ca, des­lo­cam popu­la­ções e colo­cam pes­so­as em situ­a­ção de vul­ne­ra­bi­li­da­de para a doen­ça.

“Esses e outros gru­pos seguem sen­do excluí­dos dos ser­vi­ços que neces­si­tam para pre­ve­nir, detec­tar e tra­tar a malá­ria, difi­cul­tan­do o pro­gres­so na con­cre­ti­za­ção de um mun­do livre da doen­ça”, con­cluiu a OMS.

Recomendações

Den­tre as reco­men­da­ções lis­ta­das pela enti­da­de para o com­ba­te à malá­ria figu­ram:

- Aca­bar com a dis­cri­mi­na­ção e o estig­ma;

- Envol­ver comu­ni­da­des na toma­da de deci­sões em saú­de;

- Levar cui­da­dos de saú­de para per­to de onde as pes­so­as vivem e tra­ba­lham, por meio da saú­de pri­má­ria;

- Abor­dar fato­res que aumen­tam os ris­cos de malá­ria;

- Incluir inter­ven­ções de con­tro­le da malá­ria na cober­tu­ra uni­ver­sal de saú­de.

Como é a doença

De acor­do com a Fun­da­ção Oswal­do Cruz (Fio­cruz), a malá­ria é uma doen­ça infec­ci­o­sa, febril, agu­da e poten­ci­al­men­te gra­ve. Ela é cau­sa­da pelo para­si­ta do gêne­ro Plas­mo­dium, trans­mi­ti­do ao homem, na mai­o­ria das vezes, pela pica­da de mos­qui­to do gêne­ro Anophe­les infec­ta­do, tam­bém conhe­ci­do como mos­qui­to-pre­go.

A doen­ça, entre­tan­to, tam­bém pode ser trans­mi­ti­da pelo com­par­ti­lha­men­to de serin­gas, por trans­fu­são de san­gue ou da mãe para o feto duran­te a gra­vi­dez.

Após a pica­da do mos­qui­to trans­mis­sor, o para­si­ta per­ma­ne­ce incu­ba­do no cor­po do indi­ví­duo infec­ta­do por pelo menos uma sema­na. A seguir, sur­ge um qua­dro clí­ni­co variá­vel, que inclui cala­fri­os, febre alta, sudo­re­se e dor de cabe­ça. Podem ocor­rer tam­bém dor mus­cu­lar, taqui­car­dia, aumen­to do baço e, por vezes, delí­ri­os.

No caso de infec­ção pelo pro­to­zoá­rio P. fal­ci­pa­rum, tam­bém exis­te uma chan­ce de se desen­vol­ver o que se cha­ma de malá­ria cere­bral, res­pon­sá­vel por cer­ca de 80% dos casos letais da doen­ça. Nes­se qua­dro, além da febre, podem sur­gir dor de cabe­ça, ligei­ra rigi­dez na nuca, per­tur­ba­ções sen­so­ri­ais, deso­ri­en­ta­ção, sono­lên­cia ou exci­ta­ção, con­vul­sões e vômi­tos. O paci­en­te pode che­gar a entrar em coma.

O tra­ta­men­to da malá­ria visa a eli­mi­nar o mais rapi­da­men­te pos­sí­vel o para­si­ta da cor­ren­te san­guí­nea do paci­en­te e deve ser ini­ci­a­do o mais rapi­da­men­te pos­sí­vel. O tra­ta­men­to ime­di­a­to com medi­ca­men­to anti­ma­lá­ri­co – até 24h após o iní­cio da febre – é con­si­de­ra­do fun­da­men­tal para pre­ve­nir com­pli­ca­ções.

Se o tes­te de diag­nós­ti­co não esti­ver aces­sí­vel nas pri­mei­ras duas horas de aten­di­men­to, o tra­ta­men­to com anti­ma­lá­ri­cos deve ser admi­nis­tra­do com base no qua­dro clí­ni­co e epi­de­mi­o­ló­gi­co do paci­en­te.

Brasil

No Bra­sil, de acor­do com a Fio­cruz, há três espé­ci­es de para­si­tas Plas­mo­dium que afe­tam o ser huma­no: P. fal­ci­pa­rumP. vivax e P. mala­ri­ae.

O mais agres­si­vo é o P. fal­ci­pa­rum, que se mul­ti­pli­ca rapi­da­men­te na cor­ren­te san­guí­nea, des­truin­do de 2% a 25% do total de hemá­ci­as (gló­bu­los ver­me­lhos) e pro­vo­can­do um qua­dro de ane­mia gra­ve, além de peque­nos coá­gu­los que podem gerar pro­ble­mas como trom­bo­ses e embo­li­as em diver­sos órgãos do cor­po.

Já o P. Vivax, de modo geral, cau­sa um tipo de malá­ria mais bran­da, que não atin­ge mais do que 1% das hemá­ci­as, e é rara­men­te mor­tal. No entan­to, seu tra­ta­men­to pode ser mais com­pli­ca­do, já que se alo­ja por mais tem­po no fíga­do, difi­cul­tan­do sua eli­mi­na­ção. Além dis­so, pode haver dimi­nui­ção do núme­ro de pla­que­tas, o que pode con­fun­dir a infec­ção com outra doen­ça bas­tan­te comum, a den­gue, retar­dan­do o diag­nós­ti­co.

A doen­ça pro­vo­ca­da pela espé­cie P. mala­ri­ae pos­sui qua­dro clí­ni­co bem seme­lhan­te ao da malá­ria cau­sa­da pelo P. vivax. É pos­sí­vel que a pes­soa aco­me­ti­da por este para­si­ta tenha recaí­das a lon­go pra­zo, poden­do desen­vol­ver a doen­ça nova­men­te anos mais tar­de.

 

Edi­ção: Kle­ber Sam­paio

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