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Projeto busca solução hídrica para aldeias yanomami no Amazonas

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Equipe da Fiocruz visitou aldeias na Terra Indígena Yanomami Maturacá


Pub­li­ca­do em 14/02/2023 — 13:44 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Depois de iden­ti­ficar a relação entre desnu­trição e con­sumo de água em condições impróprias em duas comu­nidades yanoma­mi, uma equipe de pesquisadores da Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz) tra­bal­ha ago­ra por solução que seja apro­pri­a­da para os povos indí­ge­nas, den­tro de seu con­tex­to social e cul­tur­al. 

O tra­bal­ho que envolve cien­tis­tas de diver­sas espe­cial­i­dades, como biól­o­gos, engen­heiros san­i­taris­tas e médi­cos, con­tou, neste ano, com visi­ta téc­ni­ca a duas aldeias na Ter­ra Indí­ge­na Yanoma­mi Mat­u­racá, no municí­pio de São Gabriel da Cachoeira, no Ama­zonas. Os pesquisadores cole­taram amostras da água con­sum­i­da pelos indí­ge­nas nos rios, poços e sis­temas plu­vi­ais, além de peix­es dos arredores, e con­duzirão um tra­bal­ho educa­ti­vo e de dis­cussão para que as aldeias pos­sam mel­ho­rar sua estru­tu­ra de sanea­men­to.

O engen­heiro san­i­tarista Alexan­dre Pes­soa, da Esco­la Politéc­ni­ca de Saúde Joaquim Venân­cio (EPSJV/Fiocruz), é um dos inte­grantes do grupo. Ele rela­tou que uma queixa fre­quente dos indí­ge­nas é que as soluções para prob­le­mas de seu cotid­i­ano muitas vezes chegam de fora, sem con­sid­er­ar seus hábitos, e acabam se tor­nan­do incom­preen­di­das pelas aldeias.

“No diál­o­go com os indí­ge­nas, esta­mos fazen­do anális­es da qual­i­dade da água para que, a par­tir de uma abor­dagem de edu­cação pop­u­lar, con­sideran­do a inter­cul­tur­al­i­dade e o modo de vida, pos­samos apre­sen­tar soluções dev­i­da­mente apro­pri­adas”, disse Pes­soa. “Para haver aceitação, não pode ser uma solução ver­ti­cal­iza­da, de cima para baixo. Haverá novas vis­i­tas para apre­sen­tar alter­na­ti­vas e tro­ca de con­hec­i­men­to sobre o ter­ritório, que obvi­a­mente eles con­hecem mais.”

Desnutrição crônica e aguda

O pon­to de par­ti­da do tra­bal­ho foi o lev­an­ta­men­to feito pelo médi­co e pesquisador da Esco­la Nacional de Saúde Públi­ca Sér­gio Arou­ca (Ensp/Fiocruz) Paulo Bas­ta, que, entre 2018 e 2019, inves­tigou a saúde ali­men­tar das cri­anças menores de cin­co anos em duas regiões da ter­ra Yanoma­mi: Awaris, no extremo norte de Roraima, e Mat­u­racá, no Ama­zonas.

O estu­do mostrou que 81,2% das cri­anças obser­vadas tin­ham baixa estatu­ra para a idade, um indi­cador de desnu­trição crôni­ca; 48,5% tin­ham baixo peso para a idade, o que apon­ta para desnu­trição agu­da; e 67,8% estavam anêmi­cas. O médi­co é o coor­de­nador do tra­bal­ho real­iza­do ago­ra, que tem a qual­i­dade da água como uma de suas pri­or­i­dades.

“Foi um con­jun­to enorme de infor­mações que a gente con­seguiu lev­an­tar, e a ausên­cia de água potáv­el para as famílias con­sumirem emergiu com força como um deter­mi­nante nos casos de diar­reia infan­til, desidratação e, con­se­quente­mente, dos casos de desnu­trição”, disse Bas­ta, em tex­to pub­li­ca­do pela Agên­cia Fiocruz de Notí­cias.

“A par­tir do recon­hec­i­men­to do prob­le­ma, elab­o­ramos um relatório téc­ni­co, que foi devolvi­do para a comu­nidade. Fize­mos uma cer­imô­nia devo­lu­ti­va, expli­camos resum­i­da­mente os resul­ta­dos, pub­li­camos ativos cien­tí­fi­cos com os prin­ci­pais dados. Depois, entramos em uma mis­são de cap­tar recur­sos para ten­tar levar algu­ma solução”.

Alexan­dre Pes­soa expli­cou que a segun­da eta­pa do tra­bal­ho, que é a con­strução de soluções, deve se esten­der até o ano que vem, e ben­e­fi­ciar cer­ca de 1,5 mil habi­tantes nas aldeias. O engen­heiro san­i­tarista defende uma vig­ilân­cia em saúde, por parte do Esta­do, que cola­bore com a vig­ilân­cia indí­ge­na do ter­ritório, para que haja uma pro­teção maior con­tra ameaças à saúde, como o garim­po.

Diferenças

“A situ­ação de cada aldeia é dis­tin­ta. A situ­ação do Ama­zonas não é a mes­ma de Roraima, onde hou­ve um colap­so san­itário e human­itário. Nas aldeias que nós vimos, existe um prob­le­ma san­itário, existe uma série de defi­ciên­cias. Mas obser­va­mos que está haven­do um for­t­alec­i­men­to da Sesai [Sec­re­taria Espe­cial de Saúde Indí­ge­na], do DSEI [Dis­tri­to San­itário Espe­cial Indí­ge­na] no sen­ti­do de resolver ess­es prob­le­mas, que não são recentes, mas que foram muito agudiza­dos durante o gov­er­no Bol­sonaro”.

O engen­heiro san­i­tarista da Fiocruz defende que, neste movi­men­to, tor­na-se impor­tante que insti­tu­ições de pesquisa atuem jun­to ao Esta­do Brasileiro na bus­ca de mel­hores práti­cas, em diál­o­go com as comu­nidades, para mel­hores condições de vida e de saúde.

Edição: Maria Clau­dia

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