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Professores concursados em escolas estaduais diminuem em dez anos

Repro­du­ção: © Geo­va­na Albuquerque/Agência Bra­sil

Estudo inédito mostra que contratos temporários aumentam


Publicado em 25/04/2024 — 08:59 Por Mariana Tokarnia — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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O núme­ro de pro­fes­so­res con­cur­sa­dos nas esco­las esta­du­ais do país che­gou ao menor pata­mar dos últi­mos dez anos em 2023. Enquan­to dimi­nu­em os con­cur­sa­dos, aumen­tam os con­tra­tos tem­po­rá­ri­os, que já são mai­o­ria nes­sas redes. Os dados são do Ins­ti­tu­to Naci­o­nal de Estu­dos e Pes­qui­sas Edu­ca­ci­o­nais Aní­sio Tei­xei­ra (Inep) e fazem par­te de estu­do iné­di­to do movi­men­to Todos Pela Edu­ca­ção, divul­ga­do nes­ta quin­ta-fei­ra (25).

O núme­ro de pro­fes­so­res con­cur­sa­dos pas­sou de 505 mil em 2013, o que repre­sen­ta­va 68,4% do total de docen­tes nas redes esta­du­ais, para 321 mil em 2023, ou 46,5% do total. Já os con­tra­tos tem­po­rá­ri­os supe­ra­ram os efe­ti­vos em 2022 e, em 2023 che­ga­ram aos 356 mil, repre­sen­tan­do 51,6% do total de con­tra­ta­ções. Em 2013, eram 230 mil, o equi­va­len­te a 31,1% do total.

Brasília (DF) 25/04/2024 - O número de professores concursados nas escolas estaduais é o menor dos últimos dez anos Fonte Saeb/Divulgação
Repro­du­ção: Bra­sí­lia — Núme­ro de pro­fes­so­res con­cur­sa­dos nas esco­las esta­du­ais é o menor dos últi­mos dez anos — Fon­te Saeb/Divulgação

Não há uma legis­la­ção espe­cí­fi­ca que limi­te o núme­ro de con­tra­tos tem­po­rá­ri­os, nem há pena­li­da­des pre­vis­tas aos esta­dos. Mas, o Pla­no Naci­o­nal de Edu­ca­ção (PNE), Lei 13.005/2014, que esta­be­le­ce metas e estra­té­gi­as para todas as eta­pas de ensi­no e a valo­ri­za­ção do setor, pre­vê que pelo menos 90% dos pro­fes­so­res das esco­las públi­cas tenham car­gos efe­ti­vos. Essa estra­té­gia deve­ria ter sido cum­pri­da até 2017.

“Em tese, o ide­al é que você con­si­ga suprir todo o seu qua­dro com pro­fes­so­res efe­ti­vos. E a figu­ra do pro­fes­sor tem­po­rá­rio é para suprir even­tu­al ausên­cia. Então, por exem­plo, um pro­fes­sor vai tra­ba­lhar na secre­ta­ria, você pre­ci­sa de um pro­fes­sor tem­po­rá­rio para cum­prir aque­la car­ga horá­ria. Ou ele foi afas­ta­do, rea­dap­ta­do, a gen­te sabe que acon­te­ce esse tipo de coi­sa, né?”, diz o geren­te de Polí­ti­cas Edu­ca­ci­o­nais do Todos pela Edu­ca­ção, Ivan Gon­ti­jo. “Pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os são super impor­tan­tes para suprir o qua­dro, para garan­tir que os alu­nos tenham aula com pro­fis­si­o­nais com for­ma­ção ade­qua­da, mas esse arti­fí­cio da con­tra­ta­ção tem­po­rá­ria deve­ria ser exce­ção à regra”, defen­de.

Segun­do Gon­ti­jo, o estu­do mos­tra que o que deve­ria ser exce­ção tem se tor­na­do regra nas redes esta­du­ais. Essas redes são res­pon­sá­veis pela ofer­ta de ensi­no médio e dos anos finais do ensi­no fun­da­men­tal, eta­pa que vai do 6º ao 9º ano. As con­tra­ta­ções tem­po­rá­ri­as, além de cau­sar impac­to nas con­di­ções de tra­ba­lho dos pro­fes­so­res, por exem­plo, com vín­cu­los mais ins­tá­veis e salá­ri­os geral­men­te infe­ri­o­res aos pro­fes­so­res efe­ti­vos, podem ain­da, de acor­do com a publi­ca­ção, inter­fe­rir na apren­di­za­gem dos estu­dan­tes.

Contratações no país

A pro­por­ção de docen­tes tem­po­rá­ri­os e efe­ti­vos varia de acor­do com a uni­da­de fede­ra­ti­va do país. No ano pas­sa­do, 15 des­sas uni­da­des tinham mais pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os que efe­ti­vos e, ao lon­go da déca­da, 16 aumen­ta­ram o núme­ro de pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os e dimi­nuí­ram o qua­dro de con­cur­sa­dos.

Brasília (DF) 25/04/2024 - O número de professores concursados nas escolas estaduais é o menor dos últimos dez anos Fonte Saeb/Divulgação
Repro­du­ção: Bra­sí­lia — Núme­ro de pro­fes­so­res con­cur­sa­dos nas esco­las esta­du­ais é o menor dos últi­mos dez anos — Fon­te Saeb/Divulgação

Em rela­ção ao per­fil des­ses pro­fes­so­res, o estu­do mos­tra que a média de ida­de dos profis­si­o­nais tem­po­rá­ri­os é de 40 anos. Entre os efe­ti­vos é 46 anos. Além dis­so, qua­se meta­de (43,6%) dos tem­po­rá­ri­os atua há pelo menos 11 anos como pro­fes­sor, o que con­for­me a pes­qui­sa, indi­ca que esse tipo de con­tra­ta­ção tem sido uti­li­za­da não ape­nas para suprir uma deman­da pon­tu­al, mas tam­bém para com­por o cor­po docen­te fixo de algu­mas redes de ensi­no.

Valorização docente

A pes­qui­sa des­ta­ca que três aspec­tos podem expli­car os pos­sí­veis impac­tos nega­ti­vos de pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os sobre os resul­ta­dos dos estu­dan­tes. O pri­mei­ro deles é a alta rota­ti­vi­da­de docen­te, que pode pre­ju­di­car o vín­cu­lo com a comu­ni­da­de esco­lar e o efe­ti­vo desen­vol­vi­men­to dos estu­dan­tes. Além dis­so, os pro­ces­sos sele­ti­vos uti­li­za­dos pelas redes de ensi­no, nem sem­pre tão rigo­ro­sos quan­to os con­cur­sos públi­cos, tam­bém impac­tam na qua­li­da­de do ensi­no. Por fim, a pes­qui­sa apon­ta as con­di­ções de tra­ba­lho dos pro­fes­so­res, que podem ser pio­res que a dos efe­ti­vos.

“Essa é uma pau­ta mui­to liga­da à valo­ri­za­ção docen­te. Se a gen­te, como país, quer valo­ri­zar os pro­fes­so­res, não dá para admi­tir alguns cená­ri­os. Como um país que quer valo­ri­zar seus pro­fes­so­res está dan­do con­di­ções de tra­ba­lho mais desa­fi­a­do­ras e vín­cu­los de tra­ba­lho mais frá­geis? Por isso que é impor­tan­te a gen­te avan­çar numa agen­da de solu­ção des­ses pro­ble­mas”, diz Gon­ti­jo.

Em 15 redes de ensi­no, o estu­do mos­tra que o salá­rio dos pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os, cal­cu­la­dos por hora, é menor que o de pro­fes­so­res efe­ti­vos em iní­cio de car­rei­ra, che­gan­do a uma dife­ren­ça de até 140%, no caso de Per­nam­bu­co. Nas outras dez redes ana­li­sa­das, não há dife­ren­ça.

Brasília (DF) 25/04/2024 - O número de professores concursados nas escolas estaduais é o menor dos últimos dez anos Fonte Saeb/Divulgação
Repro­du­ção: Bra­sí­lia — Núme­ro de pro­fes­so­res con­cur­sa­dos nas esco­las esta­du­ais é o menor dos últi­mos dez anos — Fon­te Saeb/Divulgação

 

Aprendizagem

O estu­do mos­tra ain­da pos­sí­veis impac­tos na apren­di­za­gem dos estu­dan­tes. A pes­qui­sa uti­li­za os dados do Sis­te­ma Naci­o­nal de Ava­li­a­ção da Edu­ca­ção Bási­ca (Saeb), que medem o desem­pe­nho dos estu­dan­tes em mate­má­ti­ca e lín­gua por­tu­gue­sa, do 9º ano do ensi­no fun­da­men­tal e do 3º ano do ensi­no médio, eta­pas que ficam a car­go das redes esta­du­ais.

Em 2019, quan­do resul­ta­dos de apren­di­za­gem ain­da não tinham sido impac­ta­dos pela pan­de­mia, os estu­dan­tes que tive­ram pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os no 9º ano obti­ve­ram nota, em média, 3,1 pon­tos menor em mate­má­ti­ca do que os estu­dan­tes que tive­ram aulas com docen­tes efe­ti­vos. No ensi­no médio, em 2019, os estu­dan­tes que tive­ram aulas com pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os obti­ve­ram nota, em média, 5,5 pon­tos menor em mate­má­ti­ca e 5,6 pon­tos menor em lín­gua por­tu­gue­sa do que os estu­dan­tes que tive­ram aulas com docen­tes efe­ti­vos.

Os pes­qui­sa­do­res, no entan­to, fazem uma res­sal­va: “É impor­tan­te fri­sar que essa aná­li­se pre­ci­sa ser obser­va­da com cau­te­la. Ela pode ter vie­ses, uma vez que outras variá­veis não con­si­de­ra­das podem impac­tar o regi­me de con­tra­ta­ção e a pro­fi­ci­ên­cia dos estu­dan­tes”, diz o tex­to.

“Tem uma coi­sa mui­to impor­tan­te na edu­ca­ção, que é a cri­a­ção de vín­cu­los. A gen­te pre­ci­sa dis­so para uma edu­ca­ção de qua­li­da­de. Então, o pro­fes­sor con­se­guir cons­truir bom vín­cu­lo com o alu­no, con­se­guir ter car­ga horá­ria fixa de 40 horas em uma mes­ma esco­la, para ele ter tem­po para conhe­cer os estu­dan­tes, tra­ba­lhar de for­ma mais apro­fun­da­da. Os pro­fes­so­res tem­po­rá­ri­os, em média, têm rota­ti­vi­da­de mui­to mai­or, por­que são tem­po­rá­ri­os e tra­ba­lham em mais esco­las tam­bém”, diz Gon­ti­jo.

Desafios

As con­tra­ta­ções tem­po­rá­ri­as dão mais fle­xi­bi­li­da­de e são menos cus­to­sas para os entes fede­ra­dos do que as con­tra­ta­ções efe­ti­vas, mas elas têm tam­bém impac­tos, tan­to para os docen­tes quan­to para os estu­dan­tes. Gon­ti­jo defen­de que garan­tir que con­cur­sos públi­cos sejam fei­tos de manei­ra ade­qua­da é papel não ape­nas dos esta­dos e muni­cí­pi­os, mas tam­bém do gover­no fede­ral. A Lei de Dire­tri­zes e Bases da Edu­ca­ção (LDB), Lei 9.394/1996, pre­vê que a União “pres­ta­rá assis­tên­cia téc­ni­ca aos esta­dos, ao Dis­tri­to Fede­ral e aos muni­cí­pi­os na ela­bo­ra­ção de con­cur­sos públi­cos para pro­vi­men­to de car­gos dos pro­fis­si­o­nais da edu­ca­ção”.

“Tam­bém há uma agen­da do gover­no fede­ral, que é como o gover­no fede­ral pode aju­dar as redes muni­ci­pais e esta­du­ais a faze­rem mais con­cur­sos. Isso, inclu­si­ve, está pre­vis­to na LDB, que diz que o gover­no fede­ral deve aju­dar as redes de ensi­no nos pro­ces­sos de ingres­so, por­que sozi­nha as redes não estão con­se­guin­do fazer con­cur­sos com o tama­nho e a frequên­cia ade­qua­dos. Então, o gover­no fede­ral tem um papel aqui tam­bém de apoi­ar as redes nos con­cur­sos públi­cos, para ter mais con­cur­so públi­co”, afir­ma.

Edi­ção: Gra­ça Adju­to

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