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Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados fazem parte da Pesquisa Nascer no Brasil 2, feita pela Fiocruz

Tâmara Freire — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/09/2025 — 08:48
Rio de Janeiro
Referentes ao período de 2006 a 2015, os dados tornam o Brasil o sétimo da América do Sul no quesito taxa de gravidez adolescente
Repro­dução: © Arquivo/MDS

Dados da maior pesquisa sobre par­to e nasci­men­to no Brasil mostram avanços expres­sivos na práti­ca hos­pi­ta­lar. A real­iza­ção de epi­sioto­mia, o corte do canal vagi­nal com bis­turi, para suposta­mente aumen­tar a via de pas­sagem do bebê, caiu de 47% para 7% nos par­tos vagi­nais ocor­ri­dos no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), em cer­ca de dez anos. Que­da semel­hante (de 36% para 9%) foi obser­va­da na real­iza­ção da manobra de Kris­teller, quan­do o profis­sion­al de saúde sobe sobre a ges­tante ou empurra a sua bar­ri­ga com força, para acel­er­ar o nasci­men­to.

No sis­tema pri­va­do, a redução foi ain­da mais expres­si­va: ape­nas 2% das mul­heres que tiver­am par­to vagi­nal relataram ter pas­sa­do pela manobra, que é con­sid­er­a­da uma for­ma de vio­lên­cia obstétri­ca e traz risco para a par­turi­ente e o bebê. Os dados fazem parte da Pesquisa Nascer no Brasil 2, real­iza­da pela Fiocruz, que cole­tou dados de mais de 22 mil mul­heres entre 2021 e 2023.

Nes­sa quin­ta-feira (4), os pesquisadores divul­gar­am as infor­mações ref­er­entes ao esta­do do Rio de Janeiro e adi­antaram algu­mas infor­mações nacionais, para com­para­ção. Eles mostram que aumen­tou a quan­ti­dade de mul­heres que pud­er­am se ali­men­tar e se movi­men­tar durante o par­to e que quase todas que pari­ram no Rio de Janeiro, tan­to no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), quan­to em unidades par­tic­u­lares, optaram por posições ver­ti­cal­izadas, que favore­cem a saí­da do bebê.

“É uma adesão enorme às boas práti­cas e uma elim­i­nação de inter­venções desnecessárias. No Rio, não tem mais aque­la for­ma de parir, em lito­to­mia, em que a mul­her fica com as per­nas pra cima, , sem poder faz­er força. Acabou. Isso é lin­do! É uma mudança de cul­tura que esta­mos ven­do. Não está per­feito, mas é uma mudança enorme na atenção ao par­to, fru­to de políti­cas públi­cas”, afir­mou a coor­de­nado­ra-ger­al da pesquisa, Maria do Car­mo Leal.

Por out­ro lado, a pro­porção daque­las que tiver­am aces­so à anal­ge­sia, para reduzir as dores das con­trações, caiu de 7% para 2% no SUS em todo o Brasil, e ape­nas 1% no Rio de Janeiro. Nos serviços pri­va­dos, a que­da nacional foi de 42% para 33%, chegan­do a 30% no esta­do. “Entre as mul­heres que entraram em tra­bal­ho de par­to no Rio de Janeiro, cam­in­hou mel­hor para o par­to vagi­nal quem fez uso de anal­ge­sia, mostran­do que talvez ten­hamos aqui um ali­a­do. Foi quase seis vezes maior a chance de ter­mi­nar em um par­to vagi­nal”, acres­cen­tou Maria do Car­mo.

A pesquisa tam­bém mostra que os índices de par­to nor­mal e cesar­i­anas per­manecem um grande desafio no país. A quan­ti­dade de mul­heres que pas­saram pela cirur­gia no SUS aumen­tou de 43% para 48%, com­para­n­do com a primeira edição do lev­an­ta­men­to, divul­ga­do em 2014.

A coor­de­nado­ra-ger­al da pesquisa ressal­va que, ao menos, a maior parte desse aumen­to se ref­ere a cesar­i­anas intra­parto, ou seja, real­izadas após a mul­her entrar em tra­bal­ho de par­to, que totalizaram 13% no Brasil. Os par­tos vagi­nais no SUS somaram 52% no Brasil e 50% no esta­do.

Já a pro­porção de cesáreas no sis­tema pri­va­do foi de 81% no país e 86% no Rio de Janeiro, e ape­nas 9% e 7%, respec­ti­va­mente, foram feitas após o iní­cio do tra­bal­ho de par­to. Ain­da assim, hou­ve ligeiro aumen­to na quan­ti­dade de par­tos vagi­nais no Brasil, de 12% para 19%. A recomen­dação da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde é que as cirur­gias sejam feitas ape­nas em casos de neces­si­dade e o índice do país não passe de 15%.

O cenário sobre o pré-natal mostra­do pela pesquisa, no entan­to, não é tão pos­i­ti­vo. Ape­sar de 98,5% das mul­heres do Rio de Janeiro terem rece­bido o acom­pan­hamen­to, ape­nas um terço apre­sen­ta­va reg­istro com­ple­to de afer­ição de pressão arte­r­i­al e exam­es de glicemia. Ess­es exam­es são essen­ci­ais para detec­tar e con­tro­lar as duas com­pli­cações mais comuns e perigosas da ges­tação: a hiperten­são e o dia­betes. Menos de 34% tiver­am pre­scrição reg­istra­da de áci­do fóli­co, sub­stân­cia essen­cial para o desen­volvi­men­to neu­rológi­co do feto, e ape­nas 31,6% foram vaci­nadas con­tra o tétano e a hepatite B, dois dos prin­ci­pais imu­nizantes que devem ser toma­dos na ges­tação.

Maria do Car­mo Leal desta­ca out­ras lacu­nas impor­tantes no cuida­do das ges­tantes de alto risco, ou seja, que já tin­ham algu­ma condição diag­nos­ti­ca­da no momen­to do par­to.

“Seten­ta e cin­co por cen­to delas nun­ca fiz­er­am uma con­sul­ta com espe­cial­ista, só na atenção bási­ca. Tem algu­ma coisa erra­da aqui. Trin­ta e seis por cen­to dessas mul­heres dis­ser­am que a pressão arte­r­i­al delas não foi medi­da em todas as con­sul­tas e tam­bém não tin­ham exame de glicemia, como o recomen­da­do. São mul­heres que pere­gri­naram mais (até serem admi­ti­das para o par­to), porque não tin­ha vaga, mas prin­ci­pal­mente porque eram de alto risco e dev­e­ri­am procu­rar uma unidade ade­qua­da. Pere­gri­nar na hora do par­to é tudo que elas não tin­ham que faz­er”.

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