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Boate Kiss: dez anos depois da tragédia, ninguém foi responsabilizado

Repro­du­ção: © Wil­son Dias/Agência Brasil/Arquivo

Familiares e vítimas da tragédia ainda aguardam desfecho judicial


Publi­ca­do em 26/01/2023 — 06:05 Por Gabri­el Brum — Repór­ter Rádio Naci­o­nal — Bra­sí­lia

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Após dez anos da tra­gé­dia que tirou a vida de 242 pes­so­as na boa­te Kiss, em San­ta Maria, no Rio Gran­de do Sul, nin­guém foi res­pon­sa­bi­li­za­do. Fami­li­a­res e víti­mas da tra­gé­dia, que com­ple­ta uma déca­da nes­ta sex­ta-fei­ra (27), ain­da aguar­dam o des­fe­cho judi­ci­al.

Os sóci­os da boa­te Elis­san­dro Spohr e Mau­ro Hoff­mann; o voca­lis­ta da ban­da Guri­za­da Fan­dan­guei­ra, Mar­ce­lo de Jesus dos San­tos; e o auxi­li­ar Luci­a­no Boni­lha Leão foram acu­sa­dos de homi­cí­dio pelo Minis­té­rio Públi­co do Esta­do (MPE). Em 2021, eles foram con­de­na­dos pelo Tri­bu­nal do Júri a penas de 18 a 22 anos de pri­são. Sob o argu­men­to de des­cum­pri­men­to de regras na for­ma­ção do Con­se­lho de Sen­ten­ça, o Tri­bu­nal de Jus­ti­ça do esta­do anu­lou a sen­ten­ça e revo­gou a pri­são em agos­to do ano pas­sa­do. O MPE recor­reu da deci­são.

O dele­ga­do regi­o­nal de San­ta Maria, San­dro Luís Mei­nerz, que con­du­ziu a inves­ti­ga­ção do caso, lamen­ta a demo­ra da jus­ti­ça.

“Esta­mos fechan­do ago­ra no dia 27, dez anos des­sa absur­da tra­gé­dia e, infe­liz­men­te, nenhu­ma res­pos­ta final des­se pro­ces­so foi dada para soci­e­da­de e, prin­ci­pal­men­te, para os pais e fami­li­a­res des­sas víti­mas que mor­re­ram, fora aque­las que fica­ram seque­la­das”, dis­se.

A defe­sa de Luci­a­no Boni­lha afir­ma que a sen­ten­ça do júri, que foi anu­la­da, era injus­ta. O advo­ga­do Jean Seve­ro espe­ra uma solu­ção no fim des­te ano. Já o advo­ga­do de Mau­ro Lon­de­ro, Bru­no Selig­man de Mene­zes espe­ra que a anu­la­ção seja man­ti­da e que um novo jul­ga­men­to tenha uma sen­ten­ça jus­ta.

Segun­do a advo­ga­da do voca­lis­ta Mar­ce­lo San­tos, Tati­a­na Viz­zot­to Bor­sa, o músi­co segue tra­ba­lhan­do em São Vicen­te do Sul, enquan­to aguar­da a deci­são de tri­bu­nais supe­ri­o­res. A defe­sa de Elis­san­dro Spohr não quis se mani­fes­tar.

O Minis­té­rio Públi­co do Rio Gran­de do Sul dis­se, em nota, que além dos qua­tro réus por homi­cí­dio, 19 pes­so­as, entre bom­bei­ros e ex-sóci­os da boa­te, foram acu­sa­das por cri­mes como fal­si­da­de ide­o­ló­gi­ca e negli­gên­cia.

Outras 27 pes­so­as foram denun­ci­a­das por fal­si­da­de ide­o­ló­gi­ca, por­que assi­na­ram docu­men­to dizen­do morar a menos de 100 metros da boa­te, o que foi com­pro­va­do como men­ti­ra.

Mudanças na legislação

A tra­gé­dia escan­ca­rou a fra­gi­li­da­de nos cri­té­ri­os de segu­ran­ça em casas notur­nas e exi­giu uma res­pos­ta dos legis­la­do­res. Em 2017, entrou em vigor uma nova lei fede­ral, conhe­ci­da como Lei Kiss. O tex­to esta­be­le­ceu nor­mas mais rígi­das sobre segu­ran­ça, pre­ven­ção e pro­te­ção con­tra incên­di­os em esta­be­le­ci­men­tos de reu­nião de públi­co em todo ter­ri­tó­rio naci­o­nal.
Entre as mudan­ças na lei, aspi­ran­te a ofi­ci­al do Cor­po de Bom­bei­ros Mili­tar do Dis­tri­to Fede­ral e pes­qui­sa­do­ra do caso Kiss, Kir­la Pig­na­ton, des­ta­ca a deter­mi­na­ção de que cada esta­be­le­ci­men­to tenha a lota­ção máxi­ma na por­ta de entra­da. Outro pon­to foi a inclu­são de noções de segu­ran­ça con­tra incên­dio e pâni­co nos cur­sos de enge­nha­ria e arqui­te­tu­ra.
Entre­tan­to, ao san­ci­o­nar a lei, o então pre­si­den­te Michel Temer vetou 12 tre­chos, nos quais estão a cri­mi­na­li­za­ção do des­cum­pri­men­to das ações de pre­ven­ção e com­ba­te a incên­dio e a proi­bi­ção do uso de coman­das em casas notur­nas.
Segun­do Kir­la Pig­na­ton, o caso de San­ta Maria não é iné­di­to. Outras nove situ­a­ções simi­la­res acon­te­ce­ram antes em outros paí­ses. Para a pes­qui­sa­do­ra, a tra­gé­dia mos­trou a impor­tân­cia de infor­ma­ções sobre a segu­ran­ça do local.
“[O con­su­mi­dor pas­sou a] se aten­tar que não pode ficar em um esta­be­le­ci­men­to [sem segu­ran­ça]. Ele tam­bém pode entrar no site do Cor­po de Bom­bei­ros e fazer uma denún­cia para que eles vão até o local para façam vis­to­ria para veri­fi­car se está tudo con­for­me o pro­je­to, se o pro­je­to de segu­ran­ça foi exe­cu­ta­do”, dis­se a pes­qui­sa­do­ra.
No Rio Gran­de do Sul, ain­da em 2013, mes­mo ano do incên­dio na Kiss, uma lei aumen­tou o rigor na pre­ven­ção con­tra incên­di­os. Mas no fim do ano pas­sa­do, a Assem­bleia Legis­la­ti­va apro­vou uma lei envi­a­da pelo Exe­cu­ti­vo que dis­pen­sa a neces­si­da­de de alva­rá para 730 tipos de imó­veis.

Edi­ção: Heloí­sa Cris­tal­do

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