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Carnaval não eleva casos de covid-19 no Rio, mas pode ter freado queda

Repro­du­ção: © Tânia Rêgo/Agência Bra­sil

Média móvel de casos caiu de 1.472, no dia 1º, para 1.320, hoje


Publi­ca­do em 18/03/2022 — 17:24 Por Viní­cius Lis­boa – Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

Mais de 15 dias após o car­na­val, e dez dias depois do fim da obri­ga­to­ri­e­da­de do uso de más­ca­ras em ambi­en­tes fecha­dos, o Rio de Janei­ro não enfren­ta alta nos casos e óbi­tos por covid-19, mas a ava­li­a­ção sobre o cená­rio epi­de­mi­o­ló­gi­co divi­de opi­niões de pes­qui­sa­do­res ouvi­dos pela Agên­cia Bra­sil.

De acor­do com a Soci­e­da­de Bra­si­lei­ra de Infec­to­lo­gia e o infec­to­lo­gis­ta Cel­so Ramos, mem­bro do Gru­po de Tra­ba­lho (GT) Mul­ti­dis­ci­pli­nar para Enfren­ta­men­to da Covid-19 da Uni­ver­si­da­de Fede­ral do Rio de Janei­ro (UFRJ), é pos­sí­vel dizer que o cená­rio se man­tém favo­rá­vel. Para o Obser­va­tó­rio Covid-19, da Fun­da­ção Oswal­do Cruz (Fio­cruz), porém, os dados já podem indi­car que o núme­ro de casos parou de cair.

Pro­fes­sor de doen­ças infec­ci­o­sas da UFRJ, Cel­so Ramos não espe­ra­va pio­ra no cená­rio epi­de­mi­o­ló­gi­co da cida­de devi­do ao alto per­cen­tu­al de pes­so­as vaci­na­das, que é de qua­se 85% com segun­da dose ou dose úni­ca e 45% com dose de refor­ço. Duas sema­nas depois do car­na­val, ele con­si­de­ra que a expec­ta­ti­va se con­fir­mou e que não hou­ve mudan­ça na inci­dên­cia da doen­ça.

“Esta­mos em uma situ­a­ção mui­to boa no Rio em ter­mos de vaci­na­ção. [A situ­a­ção] do muni­cí­pio do Rio é com­pa­rá­vel à dos melho­res paí­ses do mun­do e à situ­a­ção de paí­ses desen­vol­vi­dos”, afir­mou.

Sobre o fim da obri­ga­to­ri­e­da­de do uso das más­ca­ras em locais fecha­dos, em vigor des­de 8 de mar­ço, o médi­co dis­se que já seria pos­sí­vel per­ce­ber em alguns dados do muni­cí­pio ten­dên­cia de pio­ra, se o impac­to tives­se sido esse. “Se hou­ves­se um aumen­to súbi­to de trans­mis­são, a essa altu­ra, no déci­mo dia, já deve­ría­mos estar ven­do isso. Não esta­ría­mos com aumen­to de mor­tes, mas deve­ría­mos ter aumen­to de deman­da em uni­da­des de saú­de, aumen­to de deman­da de inter­na­ção, aumen­to de soli­ci­ta­ção de tes­tes por pes­so­as sin­to­má­ti­cas e do per­cen­tu­al de tes­tes posi­ti­vos. Não esta­mos ten­do isso. Até o pre­sen­te momen­to, não acon­te­ceu nada”,disse Ramos, que coor­de­na a Câma­ra Téc­ni­ca de doen­ças infec­ci­o­sas do Con­se­lho Regi­o­nal de Medi­ci­na do Esta­do do Rio de Janei­ro (Cre­merj).

O médi­co con­si­de­rou acer­ta­da a deci­são de reti­rar a obri­ga­to­ri­e­da­de das más­ca­ras, mas res­sal­tou que ain­da é pre­ci­so man­tê-las em uni­da­des de saú­de, tan­to por paci­en­tes como por pro­fis­si­o­nais. “São luga­res que con­cen­tram pes­so­as que che­gam poten­ci­al­men­te com a doen­ça e pes­so­as que podem ter ris­co para a doença.Acho que [a más­ca­ra] deve­ria con­ti­nu­ar sen­do usa­da, e mui­tas uni­da­des con­ti­nu­am fazen­do isso”, afir­mou Ramos, que defen­de a vol­ta das más­ca­ras caso algu­ma ame­a­ça con­cre­ta apa­re­ça. “Sur­gi­rem novas vari­an­tes é algo que pode acon­te­cer, mas não pode­mos tomar medi­das de saú­de públi­ca na supo­si­ção remo­ta de algo que pode acon­te­cer.”

É pre­ci­so acei­tar que qual­quer situ­a­ção epi­de­mi­o­ló­gi­ca é variá­vel e que o vírus não deve desa­pa­re­cer, res­sal­tou o pro­fes­sor da UFRJ. “O fato de o R [taxa de trans­mis­são] estar em 0,3 não sig­ni­fi­ca que vai che­gar a zero, não sig­ni­fi­ca que a doen­ça vai desa­pa­re­cer. Esta­mos sem pólio no Bra­sil no momen­to, mas no mun­do, como um todo, a doen­ça não desa­pa­re­ceu. Está­va­mos sem saram­po no Bra­sil há mui­to tem­po e ele vol­tou. A covid não vai desa­pa­re­cer.”

Inte­gran­te do Obser­va­tó­rio Covid-19 da Fun­da­ção Oswal­do Cruz e pes­qui­sa­dor em saú­de públi­ca, Rapha­el Gui­ma­rães dis­se que, na sema­na que vem, será pos­sí­vel ter mais segu­ran­ça sobre pos­sí­veis impac­tos do car­na­val no cená­rio epi­de­mi­o­ló­gi­co. Ape­sar dis­so, Gui­ma­rães vê indí­ci­os de que as aglo­me­ra­ções e via­gens podem, sim, ter muda­do a cur­va de casos e des­ta­ca que já se nota inter­rup­ção da que­da (do núme­ro diá­rio de novos casos). “Isso é pre­o­cu­pan­te. A gen­te não con­se­gue ver aumen­to de casos, mas con­se­gue ver que parou de cair, o que já é um indí­cio de que se cami­nha para um cená­rio de esta­bi­li­za­ção de casos que não é bom. E isso não está acon­te­cen­do só no Rio de Janei­ro”, acres­cen­tou.

Sobre o fim da obri­ga­to­ri­e­da­de do uso de más­ca­ras, ele admi­tiu uma pos­sí­vel influên­cia nos núme­ros no mes­mo sen­ti­do, mas afir­mou que é mui­to cedo para ter cla­re­za nes­sa ava­li­a­ção. “A expe­ri­ên­cia mos­tra que, mes­mo em luga­res com cober­tu­ra vaci­nal alta, quan­do se tem fle­xi­bi­li­za­ção pre­co­ce das más­ca­ras, a ten­dên­cia é haver rever­são com alta dos casos. A gen­te vê acon­te­cer na Euro­pa e em alguns paí­ses do Sudes­te Asiá­ti­co.”

De acor­do com Gui­ma­rães, com a mai­or trans­mis­si­bi­li­da­de pro­mo­vi­da pelas vari­an­tes do coro­na­ví­rus, o pata­mar ide­al de imu­ni­za­ção para reti­ra­da das más­ca­ras pas­sou a ser 90% da popu­la­ção com duas doses. O dado cons­ta no Bole­tim do Obser­va­tó­rio Covid-19 divul­ga­do na sema­na pas­sa­da, que cita pes­qui­sas segun­do as quais, além de che­gar a esse pata­mar, é pre­ci­so espe­rar de duas a dez sema­nas para que todos os vaci­na­dos de fato desen­vol­vam a imu­ni­da­de.

Para o pre­si­den­te da Soci­e­da­de Bra­si­lei­ra de Infec­to­lo­gia no Rio de Janei­ro, Rodri­go Lins, o car­na­val não cau­sou impac­to sig­ni­fi­ca­ti­vo no cená­rio epi­de­mi­o­ló­gi­co da cida­de, mas a reti­ra­da da obri­ga­to­ri­e­da­de das más­ca­ras pode­ria ter espe­ra­do até que essa ava­li­a­ção pudes­se ser fei­ta com mais cla­re­za, em vez de ter sido decre­ta­da na sema­na seguin­te à folia. Mes­mo assim, ele afir­ma ter pou­cas res­sal­vas con­tra a fle­xi­bi­li­za­ção.

“Meu pon­to é que é uma ques­tão com­ple­xa para dizer só: ‘libe­ra ou não libe­ra’. Há paci­en­tes de mai­or ris­co, pes­so­as que não estão com esque­mas com­ple­tos, ambi­en­tes que, mes­mo fecha­dos, não são iguais entre si e cená­ri­os como hos­pi­tais e esco­las”, afir­mou Lins, que sen­tiu fal­ta de mais ori­en­ta­ções para situ­a­ções espe­cí­fi­cas como esco­las, onde mui­tas cri­an­ças não com­ple­ta­ram o esque­ma vaci­nal. “Não acho que foi uma deci­são erra­da, esta­mos ven­do que o car­na­val não teve impac­to sig­ni­fi­ca­ti­vo.”

Segun­do Lins, ain­da é cedo para afir­mar que o cená­rio atu­al é de esta­bi­li­za­ção dos casos, em vez de que­da. “Vamos ter que acom­pa­nhar mais alguns dias. Em alguns paí­ses, hou­ve uma peque­na alta depois de o núme­ro cair mui­to, e as pes­so­as estão em dúvi­da. Mas a mor­ta­li­da­de con­ti­nua em que­da”, dis­se. “Não acho neces­sa­ri­a­men­te que [o núme­ro de casos] tenha que cair até zero para tomar essa con­du­ta [fim da obri­ga­to­ri­e­da­de] em rela­ção à más­ca­ra.”

Números

Na ter­ça-fei­ra de car­na­val, 1º de mar­ço, a média móvel de novos casos de covid-19 era de 1.472 por dia, menos que a meta­de do regis­tra­do 15 dias antes, segun­do o pai­nel de dados da Secre­ta­ria Muni­ci­pal de Saú­de do Rio de Janei­ro. Hoje (18), a média móvel che­gou a 1.320 casos por dia, man­ten­do-se, des­de 8 de mar­ço, osci­la­ção entre 1.248 e 1.380 novos regis­tros diá­ri­os.

Os núme­ros con­si­de­ram a data de divul­ga­ção dos casos, isto é, o dia em que foram noti­fi­ca­dos ao Sis­te­ma Úni­co de Saú­de (SUS), núme­ro que é sujei­to a atra­sos e repre­sa­men­tos. Quan­do con­si­de­ra­da a data de iní­cio dos sin­to­mas, a média móvel ficou em 227 novos casos em 1º de mar­ço, con­tra 634 em 16 de feve­rei­ro.

Até 14 de mar­ço, a média man­te­ve-se aci­ma de 200 casos por dia, e che­gou a 149 em 17 de mar­ço. Esse núme­ro, no entan­to, deve ser revi­sa­do para cima, por­que um paci­en­te que for diag­nos­ti­ca­do na pró­xi­ma segun­da-fei­ra, por exem­plo, pode­rá infor­mar que sen­tiu o pri­mei­ro sin­to­ma hoje, o que faria com que seu caso fos­se con­ta­bi­li­za­do retro­a­ti­va­men­te nes­ta data.

Quan­to aos casos gra­ves, o pai­nel da Secre­ta­ria Muni­ci­pal de Saú­de infor­ma que havia 32 paci­en­tes inter­na­dos em uni­da­des de tera­pia inten­si­va em 1º de mar­ço, 10 a mais que os 22 con­ta­bi­li­za­dos ontem (17).

Por fim, a média móvel de óbi­tos em sete dias esta­va em 27 novas mor­tes con­fir­ma­das por dia em 1º de mar­ço e tam­bém recu­ou des­de então. Ape­sar dis­so, des­de 9 de mar­ço, a média osci­la entre 18 e 21 novos óbi­tos por dia e está em 20 na data de hoje (18).

Edi­ção: Nádia Fran­co

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