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Estudo quer fim do desmatamento legal para zerar gases estufa no país

Repro­dução: © Polí­cia Federal/divulgação

Medida é sugerida em pesquisa da Universidade de Oxford


Pub­li­ca­do em 05/12/2023 — 13:34 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Acabar com o des­mata­men­to legal e ile­gal e inve­stir na restau­ração da veg­e­tação nati­va em larga escala estão entre as medi­das sug­eri­das por estu­do da Uni­ver­si­dade de Oxford, no Reino Unido, para que o Brasil chegue à meta de zer­ar a emis­são líqui­da de gas­es do efeito est­u­fa até 2050 – uma das obri­gações assum­i­das pelo país diante do mun­do para com­bat­er a crise climáti­ca

Chama­da de meta net zero, ela define que todos os gas­es que um país emi­tir devem ser com­pen­sa­dos pelos gas­es que ele é capaz de absorv­er, por exem­p­lo, pela ação das flo­restas. Os gas­es do efeito est­u­fa, como dióx­i­do de car­bono (CO²) e metano (CH4), são os respon­sáveis pelo aque­c­i­men­to da ter­ra.

Para alcançar essa meta no Brasil, a pesquisa da Oxford afir­ma que a mel­hor for­ma é por meio de soluções baseadas na própria natureza. Já as soluções mais tec­nológ­i­cas, como a cap­tura de car­bono na atmos­fera, além de mais caras, não se adap­tam com­ple­ta­mente à situ­ação brasileira, segun­do os pesquisadores.

No debate climáti­co, o Brasil é con­sid­er­a­do uma lid­er­ança em poten­cial por ter matriz elétri­ca em que 87% vêm de fontes pouco ou menos polu­entes, como a bio­mas­sa, as hidrelétri­c­as, a eóli­ca e a solar. Mes­mo com essa van­tagem, o país é o sex­to maior emis­sor abso­lu­to de gas­es de efeito est­u­fa do mun­do, atrás ape­nas da Chi­na, dos Esta­dos Unidos, da Índia, Rús­sia e do Japão.

No caso brasileiro, o vilão não é a queima dire­ta de com­bustív­el fós­sil, mas o uso que o país faz da ter­ra, com destaque para o des­mata­men­to. Segun­do a pesquisa, o uso da ter­ra foi respon­sáv­el por 46% das emis­sões de gas­es do efeito est­u­fa em 2020, sendo 90% desse total cau­sadas pelo des­mata­men­to. O segun­do prin­ci­pal vilão é o setor agropecuário, respon­sáv­el por 25% das emis­sões de gas­es do aque­c­i­men­to glob­al.

“Enquan­to no mun­do você tem 75% das emis­sões vin­das do setor de ener­gia, no Brasil 75% vêm de setores lig­a­dos ao uso da ter­ra e à agri­cul­tura”, desta­cou Aline Soter­roni, pesquisado­ra brasileira lota­da no Depar­ta­men­to de Biolo­gia da Uni­ver­si­dade de Oxford.

05/12/2023- Dra. Aline Soterroni, cientista ambiental. OXFORD ESTUDO DESMATAMENTO. Foto: John Lynch/Divulgação
Repro­dução: A brasileira Aline Soter­roni,  pesquisado­ra da Uni­ver­si­dade de Oxford, no Reino Unido — Foto John Lynch/Divulgação

Desmatamento legal

Diante desse cenário, a pesquisa afir­ma que o Códi­go Flo­re­stal, caso fos­se cor­re­ta­mente apli­ca­do, seria capaz de reduzir as emis­sões líquidas em ape­nas 38% até 2050. Isso porque o estu­do esti­ma que o des­mata­men­to legal, aque­le per­mi­ti­do pelo Códi­go Flo­re­stal, pode chegar a 32 mil­hões de hectares até 2050, uma área do taman­ho do esta­do do Maran­hão. Do total do des­mata­men­to legal, quase metade (48%) deve ocor­rer no Cer­ra­do.

“Vai ser muito difí­cil reduzir as emis­sões com a agri­cul­tura, vai ser muito difí­cil reduzir as emis­sões com a ener­gia, então o poten­cial maior pro Brasil é real­mente com o setor de uso da ter­ra”, desta­cou Aline.

A solução sug­eri­da pelo estu­do, cal­cu­la­da por meio de mod­e­los matemáti­cos, é de um des­mata­men­to zero, legal e ile­gal, soma­do a um reflo­resta­men­to de 35 mil­hões de hectares. Com isso, a meta de net zero seria 62% cumpri­da.

Agropecuária

O estu­do cal­cu­lou ain­da como ficaria a pro­dução de carne bov­ina e de soja caso fos­se ado­ta­da a sug­estão de acabar com todo o des­mata­men­to, aplicar cor­re­ta­mente o Códi­go Flo­re­stal e reflo­restar em larga escala. Afi­nal, a pesquisa cal­cu­lou que, de 2019 a 2021, quase 98% das áreas des­matadas no Brasil foram dire­tas ou indi­re­ta­mente impul­sion­adas pela agropecuária.

Pelos cál­cu­los matemáti­cos real­iza­dos, a pro­dução de carne bov­ina pode­ria cair de 8% a 17% e a de soja de 3% a 10% até 2050, caso essas medi­das sejam ado­tadas. Para Aline Soter­roni, “é uma que­da peque­na frente aos serviços ecos­sistêmi­cos e pro­teção da bio­di­ver­si­dade que esse cenário vai pro­por­cionar, que será impor­tante para adap­tação e resil­iên­cia às mudanças climáti­cas. O Brasil pode aco­modar sua pro­dução e con­tin­uar expor­tan­do com des­mata­men­to zero”.

A cien­tista ambi­en­tal brasileira acres­cen­tou que é pre­ciso ain­da aumen­tar a pro­du­tivi­dade, prin­ci­pal­mente da pecuária que, no Brasil, ocu­pa exten­sas áreas para pou­cas cabeças de gado. Ao mes­mo tem­po que é um dos vetores do des­mata­men­to, a agropecuária deve ser dura­mente afe­ta­da pelas mudanças climáti­cas.

“A agri­cul­tura brasileira depende dos serviços ecos­sistêmi­cos da natureza, afi­nal 90% da agri­cul­tura do Brasil não são irri­ga­dos, ela depende da água da chu­va. Por­tan­to, é fun­da­men­tal man­ter o equi­líbrio dos ecos­sis­temas para o próprio futuro da agri­cul­tura brasileira. Para isso, é estratégi­co acabar com o des­mata­men­to e não há neces­si­dade de des­matar para con­tin­uar pro­duzin­do”, expli­cou.

Aline lem­brou que o Brasil ain­da não incluiu a meta de zer­ar as emis­sões líquidas de gas­es do efeito est­u­fa até 2050 nos planos e leg­is­lações nacionais. “Você pre­cisa de um plano com metas inter­mediárias, com metas de emis­sões de cada setor e mon­i­torar isso com ambição”, con­cluiu.

Edição: Graça Adju­to

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