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Campanha busca eliminar preconceitos em relação à obesidade

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Ação marca o Dia Mundial da Obesidade de 2022


Pub­li­ca­do em 04/03/2022 — 15:04 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

 A Sociedade Brasileira de Endocrinolo­gia e Metabolo­gia (Sbem) e a Asso­ci­ação Brasileira para o Estu­do da Obesi­dade e Sín­drome Metabóli­ca (Abeso) lançaram a cam­pan­ha Obesi­dade: con­hec­i­men­to, cuida­do e respeito!, em alusão ao Dia Mundi­al da Obesi­dade de 2022, lem­bra­do hoje (4). O obje­ti­vo é con­sci­en­ti­zar a pop­u­lação e elim­i­nar pre­con­ceitos sobre o tema.

Um lev­an­ta­men­to sobre obesi­dade e gord­o­fo­bia, feito pelas enti­dades em fevereiro pas­sa­do, com 3.621 pes­soas, rev­el­ou que 88% delas apre­sen­tavam exces­so de peso, sendo 37% com obesi­dade grau 3.

A pesquisa rev­el­ou que oito em cada dez pes­soas com obesi­dade já sen­ti­ram algum tipo de con­strang­i­men­to dev­i­do ao exces­so de peso. Mais da metade delas afir­mou ser víti­ma de dis­crim­i­nação pelo menos uma vez ao mês. Rev­e­laram ain­da que é no ambi­ente famil­iar onde ocor­rem mais episó­dios de con­strang­i­men­to por causa do peso (72%). Em segun­do lugar, apare­cem as lojas e o comér­cio em ger­al (65,5%), segui­dos por situ­ações de dis­crim­i­nação no médi­co (60,4%) e no tra­bal­ho (50,7%).

De acor­do com o Min­istério da Saúde, o exces­so de peso acomete mais de 60% da pop­u­lação brasileira, sendo que cer­ca de 20% dos adul­tos já são obe­sos. Na avali­ação da pres­i­dente do Depar­ta­men­to de Obesi­dade da Sbem, a endocri­nol­o­gista Maria Edna de Melo, a úni­ca for­ma de con­seguir min­i­mizar o impacto da doença na saúde da pop­u­lação é por meio da ampli­ação do con­hec­i­men­to sobre o tema e do ofer­ec­i­men­to do cuida­do ade­qua­do.

Para o vice-pres­i­dente do Depar­ta­men­to de Obesi­dade da SBEM, Már­cio Manci­ni, antes de ir para a esco­la, a cri­ança obe­sa já tem uma cer­ta estigma­ti­za­ção den­tro da própria casa, “fru­to de como as pes­soas com exces­so de peso são tratadas de modo ger­al”. Ele afir­mou que “a pia­da sobre gordinho” é algo que a pop­u­lação ain­da não con­sid­era como politi­ca­mente incor­re­to, mas como uma escol­ha indi­vid­ual da pes­soa.

A dis­crim­i­nação em casa ocorre, prin­ci­pal­mente, quan­do a família pos­sui um fil­ho com exces­so de peso e out­ro magrin­ho, que com­par­til­ham o mes­mo ambi­ente, a mes­ma ali­men­tação muitas vezes, “mas a genéti­ca de um é difer­ente do out­ro”, disse Manci­ni à Agên­cia Brasil.

Ajuda

Maria Edna indi­cou que o pre­con­ceito pode, inclu­sive, pio­rar a obesi­dade, porque quase 30% das pes­soas com sobrepe­so impor­tante acham que são cul­padas por aque­la condição e não bus­cam aju­da profis­sion­al.

“Não é uma questão de força de von­tade”, afir­mou a espe­cial­ista. Ela ressaltou que a obesi­dade é uma doença que sofre influên­cia de diver­sos fatores como a genéti­ca, o esti­lo de vida, o estresse, a existên­cia de out­ras doenças asso­ci­adas, alguns trata­men­tos medica­men­tosos, além do tipo de ali­men­tação que aque­la pes­soa segue. “Não é uma escol­ha indi­vid­ual, mas con­se­quên­cia de uma con­fluên­cia de fatores.”

Már­cio Manci­ni reforçou que a dis­crim­i­nação e o estig­ma que cer­cam as pes­soas com exces­so de peso acabam sendo lev­a­dos para os con­sultórios médi­cos. “Mul­heres com obesi­dade fazem menos exam­es pre­ven­tivos, como Papan­i­co­lau, mamo­grafia. São menos exam­i­nadas”.

O médi­co ressaltou que fal­ta uma dis­cussão mais pro­fun­da sobre isso. Os médi­cos tratam menos tam­bém da doença obesi­dade, con­cen­tran­do-se no coles­terol, na gli­cose alter­a­da, na pressão alta. “Mas não abor­dam o prob­le­ma de uma for­ma mais efi­caz.”

A sondagem mostrou que 81% das pes­soas com obesi­dade já ten­taram perder peso de algu­ma for­ma, sendo que 68% recor­reram à aju­da espe­cial­iza­da, seja de médi­cos, nutri­cionista ou demais espe­cial­is­tas da saúde, e 32% o fiz­er­am por con­ta própria. Dess­es, mais da metade (63%) inve­sti­ram no com­bo dieta e ativi­dade físi­ca.

“A sug­estão aparente­mente inocente de coma menos, exercite-se mais sug­ere, no entan­to, que a per­da de peso está rela­ciona­da exclu­si­va­mente com dieta e exer­cí­cio, igno­ran­do a com­plex­i­dade da doença que, muitas vezes, requer inter­venções que vão além do esti­lo de vida, pas­san­do pelo acom­pan­hamen­to espe­cial­iza­do e uso de medica­men­tos ade­qua­dos”, disse a endocri­nol­o­gista Maria Edna.

Do total de pes­soas que afir­maram ter ten­ta­do perder peso por con­ta própria, 18% declararam que fiz­er­am uso de medica­men­tos sem acom­pan­hamen­to médi­co e demais artifí­cios arrisca­dos como sub­sti­tu­tos de refeição (shakes), pro­du­tos ou medica­men­tos ven­di­dos na inter­net, fitoterápi­cos e chás. Maria Edna afir­mou que ess­es números refletem a resistên­cia que as pes­soas ain­da têm de bus­car aju­da espe­cial­iza­da.

Doença

A médi­ca afir­mou que há a neces­si­dade de esclare­cer à pop­u­lação, em primeiro lugar, que “esta­mos falan­do de uma doença que, como out­ra qual­quer, pre­cisa de trata­men­to”. Ela ressaltou a importân­cia de deixar claro que mudança do esti­lo de vida sig­nifi­ca entrar em um uni­ver­so cheio de desafios.

“O con­t­role do nos­so apetite ocorre nas áreas mais prim­i­ti­vas do nos­so sis­tema ner­voso cen­tral. Quan­do esta­mos na frente de um ali­men­to, prin­ci­pal­mente aque­les hiper­palatáveis, indus­tri­al­iza­dos, ricos em açú­car, com inúmeros atra­tivos, somos lev­a­dos a um ato quase automáti­co pelo próprio cor­po. A região cor­ti­cal do nos­so cére­bro, onde real­izamos as pon­der­ações, tem par­tic­i­pação muito peque­na”, expli­cou a douto­ra.

A pesquisa rev­el­ou tam­bém que somente 13% das pes­soas procu­raram aju­da para perder peso no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), sendo que 62% desse con­tin­gente declararam que não se sen­ti­ram con­fortáveis e acol­hi­dos no atendi­men­to. A sen­sação cres­cia quan­to maior era o grau de obesi­dade. Segun­do Maria Edna, isso chama a atenção para out­ro dado pre­ocu­pante, que é o pre­con­ceito que a pes­soa com obesi­dade sente ao procu­rar aju­da médi­ca. “Pre­cisamos de profis­sion­ais mais bem prepara­dos e pron­tos para aten­der a essa deman­da”, man­i­festou a endocri­nol­o­gista.

Már­cio Manci­ni sub­lin­hou que a maior parte das esco­las médi­cas do país ded­i­ca muito pouco dos seis anos de ensi­no para falar sobre obesi­dade com os alunos. Rev­el­ou ain­da que uma grande parte das residên­cias médi­cas de endocrinolo­gia ensi­na para os res­i­dentes doenças da tireoide, da hipó­fise, doenças do cresci­men­to e do desen­volvi­men­to, mas algu­mas não têm sequer obesi­dade como matéria con­sid­er­a­da impor­tante.

Diagnóstico

Uma pes­soa apre­sen­ta diag­nós­ti­co de obesi­dade quan­do seu Índice de Mas­sa Cor­po­ral (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2. A faixa nor­mal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Segun­do o Min­istério da Saúde, a obesi­dade é um dos prin­ci­pais fatores de risco para várias doenças não trans­mis­síveis, como dia­betes tipo 2, doenças car­dio­vas­cu­lares, hiperten­são, aci­dente vas­cu­lar cere­bral e várias for­mas de câncer.

O Dia Mundi­al da Obesi­dade foi cri­a­do pela Fed­er­ação Mundi­al de Obesi­dade (WOF, do nome em inglês) com o obje­ti­vo de aumen­tar a con­sci­en­ti­za­ção sobre a doença, incen­ti­var a mudança, mel­ho­rar as políti­cas de atendi­men­to às pes­soas com obesi­dade e com­par­til­har exper­iên­cias.

A data comem­o­ra­ti­va orig­i­nal era 11 de out­ubro mas, em 2020, ela foi muda­da pela WOF para 4 de março. Segun­do a WOF, 800 mil­hões de pes­soas em todo o mun­do vivem com obesi­dade e as con­se­quên­cias médi­cas da doença cus­tarão mais de US$ 1 tril­hão aos país­es, até 2025.

Edição: Maria Clau­dia

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