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Estudo mostra que Brasil está abaixo da meta de vacinação contra HPV

Repro­du­ção: © Mar­ce­lo Camargo/Agência Bra­sil

Pesquisa marca Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Colo do Útero


Publi­ca­do em 25/03/2023 — 20:49 Por Ala­na Gan­dra — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

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Estu­do da Fun­da­ção do Cân­cer, divul­ga­do para mar­car o Dia Mun­di­al da Pre­ven­ção do Cân­cer de Colo do Úte­ro, cele­bra­do nes­te domin­go (26), reve­la que todas as capi­tais e regiões bra­si­lei­ras estão com a vaci­na­ção con­tra o HPV (Papi­lo­ma­ví­rus huma­no) abai­xo da meta esta­be­le­ci­da pelo Pro­gra­ma Naci­o­nal de Imu­ni­za­ções (PNI) e pela Orga­ni­za­ção Mun­di­al da Saú­de (OMS). Isso sig­ni­fi­ca que até 2030, o Bra­sil não deve­rá atin­gir a meta neces­sá­ria para a eli­mi­na­ção da doen­ça, que cons­ti­tui pro­ble­ma de saú­de públi­ca. O levan­ta­men­to tem como base os regis­tros de vaci­na­ção do PNI de meni­nas entre 9 e 14 anos, no perío­do de 2013 a 2021, e meni­nos de 11 a 14 anos, entre 2017 e 2021.

Em todo o Bra­sil, a cober­tu­ra vaci­nal da popu­la­ção femi­ni­na entre 9 e 14 anos alcan­ça 76% para a pri­mei­ra dose e 57% para a segun­da dose. A ade­são à segun­da dose é infe­ri­or à pri­mei­ra, vari­an­do entre 50% e 62%, depen­den­do da região. Na popu­la­ção mas­cu­li­na entre 11 e 14 anos, a ade­são à vaci­na­ção con­tra o HPV é infe­ri­or à femi­ni­na no Bra­sil como um todo. A cober­tu­ra vaci­nal entre meni­nos é de 52% na pri­mei­ra dose e 36% na segun­da, mui­to abai­xo do reco­men­da­do. A Região Nor­te apre­sen­ta a menor cober­tu­ra vaci­nal mas­cu­li­na, de 42% na pri­mei­ra dose e de 28% na segun­da. O estu­do com­ple­to pode ser aces­sa­do no site da Fun­da­ção do Cân­cer.

Destaques

Em entre­vis­ta à Agên­cia Bra­sil, a con­sul­to­ra médi­ca da Fun­da­ção do Cân­cer e cola­bo­ra­do­ra do estu­do Flá­via Cor­rêa afir­mou que há uma dife­ren­ça regi­o­nal mar­can­te. “O mais pre­o­cu­pan­te é que jus­ta­men­te o Nor­te e o Nor­des­te, que têm as mai­o­res taxas de inci­dên­cia de mor­ta­li­da­de por cân­cer de colo de úte­ro, são as regiões onde encon­tra­mos a menor cober­tu­ra de vaci­na­ção”. De acor­do com a médi­ca, isso acen­de o aler­ta de que é neces­sá­rio inves­ti­men­to gran­de em medi­das edu­ca­ti­vas para a popu­la­ção, para as cri­an­ças e ado­les­cen­tes, pais e res­pon­sá­veis e para pro­fis­si­o­nais de saú­de, a fim de aumen­tar a cober­tu­ra.

De acor­do com o levan­ta­men­to, a Região Nor­te apre­sen­ta a menor cober­tu­ra vaci­nal com­ple­ta (pri­mei­ra e segun­da doses) do país em meni­nas: 50,2%. Entre os meni­nos, o per­cen­tu­al é de ape­nas 28,1%. A região tam­bém foi a que mais regis­trou óbi­tos por cân­cer de colo de úte­ro no perío­do 2016/2020: 9,6 por 100 mil mulhe­res, con­tra a média bra­si­lei­ra de 6 a cada 100 mil mulhe­res.

De todas as regiões do país, o Sul é a que mais se apro­xi­ma da meta esta­be­le­ci­da (87,8%) na pri­mei­ra dose em meni­nas. Por outro lado, é a região que apre­sen­ta mai­or índi­ce de absen­teís­mo, ou não com­pa­re­ci­men­to, na segun­da dose: 25,8% entre as mulhe­res e 20,8% entre os homens, enquan­to a média do país é de 18,4% e 15,7% nas popu­la­ções femi­ni­na e mas­cu­li­na, res­pec­ti­va­men­te. Já o Nor­des­te tem a menor vari­a­ção entre a pri­mei­ra e a segun­da dose, tan­to femi­ni­na (71,9% e 57,9%) quan­to mas­cu­li­na (50,4% e 35,8%).

Múltiplas doses

Segun­do Flá­via, toda vaci­na que tem múl­ti­plas doses cos­tu­ma apre­sen­tar pro­ble­ma do absen­teís­mo, espe­ci­al­men­te entre os ado­les­cen­tes. “Em qual­quer vaci­na que tenha múl­ti­plas doses, o que se vê é que exis­te real­men­te uma que­da para com­ple­tar o esque­ma vaci­nal”. Isso acon­te­ce não só no Bra­sil, mas no mun­do todo. No caso da vaci­na­ção con­tra o HPV, a reco­men­da­ção do PNI é con­ti­nu­ar com duas doses, embo­ra a OMS já tenha dado aval para que seja uti­li­za­da uma dose úni­ca, depen­den­do das cir­cuns­tân­ci­as locais. “É pre­ci­so haver uma cons­ci­en­ti­za­ção mui­to gran­de para que se com­ple­te o esque­ma vaci­nal”.

Ela lem­brou que seria mui­to impor­tan­te a vaci­na­ção vol­tar a ser fei­ta nas esco­las, como ocor­reu no pri­mei­ro ano em que a pri­mei­ra dose foi dis­po­ni­bi­li­za­da nas uni­da­des de ensi­no e de saú­de. A par­tir da segun­da dose, só esta­va dis­po­ní­vel nas uni­da­des de saú­de. Flá­via des­ta­cou que em todo o mun­do, o esque­ma que deu mais cer­to foi o mis­to, em que a vaci­na­ção esta­va dis­po­ní­vel ao mes­mo tem­po na esco­la e nas uni­da­des de saú­de. “Esse é um pon­to mui­to impor­tan­te”.

Capitais

O estu­do mos­tra tam­bém que Belo Hori­zon­te é a úni­ca capi­tal com cober­tu­ra vaci­nal femi­ni­na aci­ma de 90% na pri­mei­ra dose. Con­si­de­ran­do o esque­ma vaci­nal com­ple­to, esse per­cen­tu­al cai para 72,8%, mas ain­da con­ti­nua sen­do a capi­tal que mais pro­te­geu sua popu­la­ção con­tra o cân­cer de colo de úte­ro no país, con­si­de­ran­do o perío­do de 2013 a 2021. Em segui­da, apa­re­cem Curi­ti­ba, com 87,7% e 68,7% (dose ini­ci­al e refor­ço) e Manaus, com 87,0% e 63,2% (pri­mei­ra e segun­da doses).

For­ta­le­za foi a capi­tal do Nor­des­te com mai­or cober­tu­ra vaci­nal na pri­mei­ra dose (81,9%) e na segun­da dose (60,1%). São Luís, ao con­trá­rio, obte­ve os meno­res per­cen­tu­ais na pri­mei­ra (51,4%) e na segun­da (36,7%). Bra­sí­lia e Goi­â­nia, no Cen­tro-Oes­te, apre­sen­ta­ram os mai­o­res e meno­res per­cen­tu­ais na pri­mei­ra e segun­da doses, da ordem de 78,1% e 58,6% e 62,1% e 43,5%, res­pec­ti­va­men­te.

No Sudes­te, o Rio de Janei­ro teve índi­ce vaci­nal de 72,1% na pri­mei­ra dose e 49,1% na segun­da; em São Pau­lo, o índi­ce tam­bém é bai­xo (76,5% e 59,8%). O mes­mo ocor­re em Por­to Ale­gre, na Região Sul, onde somen­te 42,7% da popu­la­ção femi­ni­na estão com o esque­ma vaci­nal com­ple­to, 21 pon­tos per­cen­tu­ais abai­xo da dose ini­ci­al da vaci­na­ção. O pior cená­rio, con­tu­do, é regis­tra­do em Rio Bran­co, no Nor­te do país: ape­nas 12,3% da popu­la­ção femi­ni­na toma­ram as duas doses da vaci­na con­tra o HPV. Na pri­mei­ra dose, foram 14,6%. “Até hoje, a cober­tu­ra no Acre é bai­xís­si­ma”, comen­tou a médi­ca.

Desinformação

Flá­via Cor­rêa cha­mou a aten­ção para o fato de que há ain­da mui­ta desin­for­ma­ção sobre a vaci­na con­tra o HPV. Mui­tos pais igno­ram que a vaci­na pre­vi­ne con­tra o cân­cer de colo do úte­ro e não inci­ta o iní­cio da vida sexu­al antes do tem­po. Outros não sabem qual é a fai­xa etá­ria em que os filhos devem se vaci­nar. “Há uma fal­ta de infor­ma­ção mui­to gran­de que pre­ci­sa ser abor­da­da com medi­das edu­ca­ti­vas, mais for­tes, tan­to para as cri­an­ças e ado­les­cen­tes, quan­to para os pais, a soci­e­da­de como um todo. É neces­sá­rio ampli­ar a dis­cus­são sobre a ques­tão da vaci­na, mos­trar os dados que dizem que ela é segu­ra, não esti­mu­la a ati­vi­da­de sexu­al pre­co­ce”.

A con­sul­to­ra médi­ca da Fun­da­ção do Cân­cer dis­se que a cober­tu­ra vaci­nal é menor para os meni­nos, tan­to na pri­mei­ra quan­to na segun­da dose, por­que as pes­so­as ain­da não enten­de­ram que a vaci­na­ção de meni­nos é neces­sá­ria não só para pro­te­ger as meni­nas do cân­cer de colo do úte­ro, mas por­que traz bene­fí­ci­os tam­bém para os repre­sen­tan­tes do sexo mas­cu­li­no. Ao vaci­nar ambos os sexos, dimi­nui a dis­se­mi­na­ção do vírus, expli­cou.

Além de pro­te­ger as meni­nas e mulhe­res con­tra o cân­cer de colo do úte­ro, os meni­nos podem ser bene­fi­ci­a­dos com a vaci­na para evi­tar cân­cer de pênis, de oro­fa­rin­ge, cân­cer de boca, de ânus, entre outros tipos. Na mulher, a imu­ni­za­ção tam­bém evi­ta cân­cer de vul­va, vagi­na, farin­ge, boca. ”Isso pre­ci­sa ser bas­tan­te divul­ga­do”, obser­vou Flá­via Cor­rêa.

A vaci­na é segu­ra e está dis­po­ní­vel gra­tui­ta­men­te no Sis­te­ma Úni­co de Saú­de (SUS) para meni­nos e meni­nas de 9 a 14 anos, em esque­ma de duas doses, e para mulhe­res e homens trans­plan­ta­dos, paci­en­tes onco­ló­gi­cos, por­ta­do­res de HIV, de 9 a 45 anos, em esque­ma de três doses.

Edi­ção: Gra­ça Adju­to

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