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Pesquisas brasileiras avançam no diagnóstico de Alzheimer

Doença pode ser diagnosticada por exames de sangue

Flávia Albu­querque — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 16/10/2025 — 07:38
São Paulo
Teste de sangue pode revolucionar diagnóstico da doença de Alzheimer. Foto: Louis Reed/ Unsplash
Repro­dução: © Louis Reed/ Unsplash

Estu­dos recentes feito por cien­tis­tas brasileiros con­fir­maram o poten­cial de um exame de sangue para o diag­nós­ti­co do Alzheimer. As anális­es apon­tam o bom desem­pen­ho da pro­teí­na p‑tau217 como o prin­ci­pal bio­mar­cador para dis­tin­guir, por meio desse exame, indi­ví­du­os saudáveis de pes­soas com a doença. O obje­ti­vo das pesquisas, apoiadas pelo Insti­tu­to Ser­rapil­heira, é levar os estu­dos para o Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) para uso em larga escala.

Segun­do Eduar­do Zim­mer, pesquisador da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul (UFRGS), apoia­do pelo insti­tu­to, atual­mente no Brasil exis­tem dois exam­es capazes de iden­ti­ficar o Alzheimer: o exame de líquor, um pro­ced­i­men­to inva­si­vo no qual é fei­ta uma punção lom­bar uti­lizan­do uma agul­ha bem fina; e o exame de imagem (tomo­grafia). Antes dis­so, a úni­ca for­ma de detec­tar a pos­si­bil­i­dade da doença era o exame clíni­co, nor­mal­mente feito por um neu­rol­o­gista que fazia diag­nós­ti­co basea­do nos sin­tomas do paciente.

“Tan­to o exame de líquor quan­to a tomo­grafia podem ser solic­i­ta­dos pelo médi­co para o diag­nós­ti­co da doença de Alzheimer assis­ti­do por bio­mar­cadores. O prob­le­ma é que quan­do pen­samos num país como o Brasil, con­ti­nen­tal, com 160 mil­hões de pes­soas que depen­dem do SUS, como vamos faz­er ess­es exam­es em larga escala? Uma punção lom­bar neces­si­ta de infraestru­tu­ra, exper­iên­cia e nor­mal­mente é o neu­rol­o­gista que faz. Já o exame de imagem é muito caro para usar no SUS em todo o país”, afir­mou.

A pesquisa, assi­na­da por 23 pesquisadores, incluin­do oito brasileiros, anal­isou mais de 110 estu­dos sobre o tema com cer­ca de 30 mil pes­soas, con­fir­man­do que o p‑tau217 no sangue é o bio­mar­cador mais promis­sor para iden­ti­ficar a doença de Alzheimer. Além de Zim­mer, o estu­do con­ta com Wag­n­er Brum, aluno de doutora­do e mem­bro do grupo de pesquisa na UFRGS, como coau­tores.

Brasília (DF), 16/10/2025 - Eduardo Zimmer. Foto: Instituto Serrapilheira/Divulgação
Reprodução: Pesquisador brasileiro Eduardo Zimmer, da UFRGS, participa de estudo sobre diagnóstico do Alzheimer — Foto Instituto Serrapilheira/Divulgação

Os resul­ta­dos foram obti­dos em anális­es de 59 pacientes e os testes foram com­para­dos com o “padrão ouro”, o exame de líquor, apre­sen­tan­do alto nív­el de con­fi­a­bil­i­dade, aci­ma de 90%, padrão recomen­da­do pela Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS). Segun­do Zim­mer, ao mes­mo tem­po um grupo de pesquisadores do Insti­tu­to D’Or, no Rio de Janeiro, e da UFRJ (Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro), os pro­fes­sores Sér­gio Fer­reira, Fer­nan­da De Felice e Fer­nan­da Tovar-Moll, devolver­am um estu­do prati­ca­mente igual e com os mes­mos resul­ta­dos.

“São duas regiões difer­entes do país, com genéti­ca e car­ac­terís­ti­cas socio­cul­tur­ais com­ple­ta­mente difer­ente e o exame fun­cio­nou muito bem”, desta­cou.

Atual­mente, o diag­nós­ti­co pre­coce da doença de Alzheimer é con­sid­er­a­do um dos prin­ci­pais desafios de saúde públi­ca no mun­do. De acor­do com a OMS, aprox­i­mada­mente 57 mil­hões de pes­soas no mun­do vivem com algum tipo de demên­cia — dessas, pelo menos 60% têm o diag­nós­ti­co de Alzheimer. No Brasil, o Relatório Nacional sobre Demên­cia, de 2024, esti­ma cer­ca de 1,8 mil­hão de pes­soas com a doença. A pre­visão é que o número pode trip­licar até 2050.

Baixa escolaridade

No estu­do, os cien­tis­tas iden­ti­ficaram que a baixa esco­lar­i­dade parece acen­tu­ar mais a doença, reforçan­do a hipótese de que fatores socioe­conômi­cos e edu­ca­cionais impactam no envel­hec­i­men­to do cére­bro.

“A baixa esco­lar­i­dade é um fator de risco muito impor­tante para o declínio cog­ni­ti­vo, fican­do aci­ma de idade e sexo. Fize­mos esse estu­do no Brasil e o primeiro lugar dis­para­do é a baixa esco­lar­i­dade. No con­tex­to biológi­co, a gente entende que o cére­bro que é expos­to a edu­cação for­mal cria mais conexões. É como se a gente exerci­tasse o cére­bro que fica mais resistente ao declínio cog­ni­ti­vo”, ressaltou o pesquisador.

SUS

O diag­nós­ti­co por exame de sangue já é uma real­i­dade na rede pri­va­da. Testes real­iza­dos no exte­ri­or, como o amer­i­cano PrecivityAD2, são ofer­e­ci­dos no Brasil a um cus­to que pode chegar a R$ 3,6 mil. Emb­o­ra apre­sen­tem alta pre­cisão, seu preço ele­va­do reforça a importân­cia de desen­volver uma alter­na­ti­va nacional e gra­tui­ta.

O pesquisador expli­cou que, para que o exame chegue ao SUS, primeiro é pre­ciso enten­der se ele vai ter a per­for­mance necessária. Em segun­do lugar esta­b­ele­cer a estraté­gia e a logís­ti­ca para a inclusão no SUS.

“Pre­cisamos de várias avali­ações para enten­der onde as anális­es serão feitas, quan­do ess­es exam­es vão ser uti­liza­dos, que pop­u­lação será ben­e­fi­ci­a­da, se vai acel­er­ar ou não o diag­nós­ti­co no SUS”, disse.

Entre­tan­to, antes de chegar a essa eta­pa ain­da há um cam­in­ho a ser per­cor­ri­do, o que difi­cul­ta colo­car uma esti­ma­ti­va dessa disponi­bil­i­dade. Os resul­ta­dos defin­i­tivos estarão disponíveis em cer­ca de dois anos. Ape­sar de a doença ser mais fre­quente em pes­soas com 65 anos, serão ini­ci­a­dos estu­dos em pes­soas com mais de 55 anos.

“Vamos começar os estu­dos com indi­ví­du­os com mais de 55 anos, porque sabe­mos que existe uma fase que a gente chama de pré-clíni­ca da doença de Alzheimer, que é quan­do a doença começa a se insta­lar, mas o indi­ví­duo ain­da não tem sin­tomas. A ideia é con­seguirmos mapear tam­bém a prevalên­cia dess­es indi­ví­du­os”, acres­cen­tou Zim­mer.

De acor­do com o Insti­tu­to Ser­rapil­heira, a pesquisa foi pub­li­ca­da na revista Mol­e­c­u­lar Psy­chi­a­try, e os resul­ta­dos foram reforça­dos em revisão inter­na­cional pub­li­ca­da em setem­bro, no per­iódi­co Lancet Neu­rol­o­gy.

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