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“Pode ir na ONU que não tô nem aí”, diz Tarcísio sobre abuso da PM

Repro­du­ção: © Josué Emi­dio / Gover­no do Esta­do

Em 2 meses agentes policiais mataram 57 pessoas no litoral paulista


Publicado em 08/03/2024 — 18:30 Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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O gover­na­dor de São Pau­lo, Tar­cí­sio de Frei­tas, decla­rou nes­ta sex­ta-fei­ra (8) que não está “nem aí” para as denún­ci­as de que estão ocor­ren­do abu­sos na con­du­ção da Ope­ra­ção Verão, defla­gra­da pela Polí­cia Mili­tar na Bai­xa­da San­tis­ta.

“Sin­ce­ra­men­te, nós temos mui­ta tran­qui­li­da­de com o que está sen­do fei­to. E aí o pes­so­al pode ir na ONU [Orga­ni­za­ção das Nações Uni­das], pode ir na Liga da Jus­ti­ça, no raio que o par­ta, que eu não tô nem aí”, dis­se a jor­na­lis­tas, duran­te even­to na capi­tal para cele­brar o Dia Inter­na­ci­o­nal da Mulher.

Des­de o ano pas­sa­do, a Bai­xa­da San­tis­ta tem sido pal­co de gran­des ope­ra­ções de segu­ran­ça, após poli­ci­ais mili­ta­res serem mor­tos na região. O núme­ro de pes­so­as mor­tas por PMs em ser­vi­ço na região aumen­tou mais de cin­co vezes nos dois pri­mei­ros meses des­te ano.

Em janei­ro e feve­rei­ro, os agen­tes mata­ram 57 pes­so­as, segun­do dados divul­ga­dos pelo Minis­té­rio Públi­co de São Pau­lo (MPSP). No mes­mo perío­do do ano pas­sa­do, foram regis­tra­das dez mor­tes por poli­ci­ais em ser­vi­ço na região.

Nes­ta sex­ta-fei­ra, o gover­na­dor Tar­cí­sio de Frei­tas foi denun­ci­a­do ao Con­se­lho de Direi­tos Huma­nos da Orga­ni­za­ção das Nações Uni­das (ONU) pela esca­la­da da leta­li­da­de poli­ci­al no esta­do. Apre­sen­ta­da pela Conec­tas Direi­tos Huma­nos e pela Comis­são Arns, a denún­cia apon­ta que a situ­a­ção no lito­ral pau­lis­ta é resul­ta­do de ação deli­be­ra­da de Tar­cí­sio “que vem inves­tin­do na vio­lên­cia poli­ci­al con­tra pes­so­as negras e pobres”.

As enti­da­des pedi­ram que o con­se­lho leve o Esta­do bra­si­lei­ro a esta­be­le­cer medi­das de con­tro­le à vio­lên­cia poli­ci­al no esta­do de São Pau­lo, asse­gu­ran­do a imple­men­ta­ção do pro­gra­ma de câme­ras cor­po­rais, inves­ti­gan­do de for­ma inde­pen­den­te e res­pon­sa­bi­li­zan­do os agen­tes públi­cos e a cadeia de coman­do envol­vi­da na prá­ti­ca de abu­sos e exe­cu­ções sumá­ri­as.

Em entre­vis­ta nes­ta sex­ta-fei­ra, o gover­na­dor defen­deu o tra­ba­lho dos poli­ci­ais, argu­men­tan­do que as ope­ra­ções têm fei­to uso de “inte­li­gên­cia e alvos deter­mi­na­dos” e que elas esta­ri­am “res­ta­be­le­cen­do a ordem”.

“Há sem­pre mui­ta crí­ti­ca à nos­sa ação, e isso me impres­si­o­na um pou­co por­que me pare­ce que é mais con­for­tá­vel fazer o que era fei­to antes”, dis­se. “A nos­sa polí­cia é extre­ma­men­te pro­fis­si­o­nal. É uma pena que toda hora as pes­so­as que­rem colo­car a polí­cia na posi­ção de cri­mi­no­sa. Não é isso. Esses caras estão defen­den­do a gen­te, defen­den­do a nos­sa soci­e­da­de, com cora­gem. Estão ves­tin­do far­da para enfren­tar cri­mi­no­so”, acres­cen­tou.

As ope­ra­ções da Polí­cia Mili­tar no lito­ral têm sido bas­tan­te con­tes­ta­das. No domin­go (3), uma comi­ti­va for­ma­da por diver­sas enti­da­des de defe­sa dos direi­tos huma­nos foi até a Bai­xa­da San­tis­ta para colher depoi­men­tos sobre as ope­ra­ções da Polí­cia Mili­tar na região. O ouvi­dor da Polí­cia do Esta­do de São Pau­lo, Clau­dio Sil­va, que inte­grou a comi­ti­va, defen­deu a sus­pen­são da Ope­ra­ção Verão.

“Por par­te das tes­te­mu­nhas, é impor­tan­te reve­lar que vem uma série de recla­ma­ções sobre inti­mi­da­ções, vol­ta da polí­cia à cena do cri­me e inva­são de casas de víti­mas que já foram mor­tas. Tem uma das tes­te­mu­nhas que rela­tou que a casa foi inva­di­da, mes­mo depois da pes­soa mor­ta, e total­men­te revi­ra­da. E inti­mi­da­ção de for­te apa­ra­to poli­ci­al pre­sen­te no sepul­ta­men­to de víti­mas”, dis­se o ouvi­dor.

Nes­ta sema­na, o Minis­té­rio Públi­co deci­diu abrir uma notí­cia fato para inves­ti­gar as denún­ci­as de que os poli­ci­ais mili­ta­res não esta­ri­am pre­ser­van­do as cenas dos cri­mes, levan­do os mor­tos da ope­ra­ção para os hos­pi­tais como se esti­ves­sem vivos para evi­tar a perí­cia no local exa­to da mor­te. Quan­do o cor­po é reti­ra­do do local do cri­me, o tra­ba­lho da perí­cia fica pre­ju­di­ca­do, difi­cul­tan­do a cons­ta­ta­ção se hou­ve homi­cí­dio ou mor­te decor­ren­te de inter­ven­ção poli­ci­al.

A jor­na­lis­tas, Tar­cí­sio res­pon­deu sobre essa inves­ti­ga­ção do Minis­té­rio Públi­co. “Esta­mos fazen­do o enfren­ta­men­to de for­ma pro­fis­si­o­nal, de for­ma séria. E aí vem denún­cia dis­so, denún­cia daqui­lo. Temos que enten­der, às vezes, a situ­a­ção em que as pes­so­as estão lá, escra­vi­za­das pelo cri­me, ame­a­ça­das pelo cri­me. Por­que ofi­ci­al­men­te não che­ga nada lá. Você con­ver­sa com o pes­so­al da San­ta Casa de San­tos e nenhu­ma infor­ma­ção des­sa foi vei­cu­la­da. É uma tre­men­da irres­pon­sa­bi­li­da­de levan­tar esse tipo de situ­a­ção sem evi­dên­cia, sem las­tro”.

Edi­ção: Fer­nan­do Fra­ga

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